- Mas você tinha me dito que me amava.
- Eu não disse. Eu respondi.
- Mas se você cortar este fio ela não explode?
- E quem disse que eu quero desativá-la?
- Mas benzinho, estava tão bom o preço.
- Por isso mesmo.
- Lucas, eu sou seu pai.
(Beep) - Jarbas, me traz um kit de teste de DNA, faz favor? É mais um dizendo que é meu pai.
- Escuta... e você parcela esse valor?
- Tá me zuando, né? Só falta dizer que quer beijo na boca também.
- TARADO! SAFADO! Você não tem vergonha na cara! Ficar apalpando mulher na rua!
- Me desculpe. Me confundi. Pensei que você era a sua mãe.
- Benhê, olha essa matéria que legal, ensina a medir o nível de testosterona a que o homem foi submetido durante o processo embrionário e o quanto isso o afetou em seu crescimento tanto físico quanto psicológico. Diz muito da personalidade do homem, segundo o que tá escrito aqui. Vem cá, me empresta sua mão, deixe-me medir aqui, vem cá.
- Ah, tenha dó mulher. Para que você quer medir essa merda?
- Muito bonito... a senhorita sabe a quantos quilômetros por hora estav- Ana?!?! Mas o que...
- Eu não sei mais como chamar sua atenção, Carlos...
Assumi que sempre teria você ao meu lado, mas seu ponto era antes do meu.
Tem um tipo de mentira que não me sinto à vontade para contar.
Deste.
Queria saber das causas da alta auto-confiança. Isso. As causas.
Eu preciso saber ou talvez voltar a blefar. Conforme a idade vai avançando as apostas vão ficando altas demais para pagar toda vez.
Treinava-se para conseguir aceitar e conviver com algum nível de verdade, por mais gélida que ela fosse. No final, apenas fingia que vivia à base de verdade. Ilusões são tão mais sedutoras e confortáveis e também, não importando para onde olhava, praticamente só havia elas.
Um jovem empreendedor bastante ignorante não entendeu muito bem os muitos panfletos que informavam sobre as vantagens da reciclagem. Foi a única vez na história em que alguém propositalmente montou uma fábrica de lixo.
Só não era mais deprimido porque se odiava a ponto de contradizer a si mesmo, ficando feliz de vez em quando, apenas para irritar-se. Ria com entusiasmo, mas só de sacanagem.
Esbravejou do alto: "Status não tá com nada" Enquanto descia agradecia aos amigos que aplaudiam. Uma menina veio e o beijou.
Estragou de propósito seu vestido de noiva a minutos do casamento. Ela chorava ao espelho dizendo que não era perfeita, que queria um vestido que representasse isso e que queria ser aceita assim.
No fundo, ela não precisava ter rasgado o vestido. Ninguém enxerga a parte de dentro.
A humanidade não está perdida. Sabe perfeitamente onde fica sua bunda para poder ficar sentada em cima dela.
Amava seres humanos tanto quanto ficar sozinho. Sua definição de felicidade era tecnicamente impossível de ser alcançada, sintaticamente incoerente e até ofensiva em algumas interpretações.
Ela achava que precisava dele tanto quanto precisava de oxigênio. Tinha esquecido que até o ar podia conter impurezas. Estava entrando em um quadro grave de intoxicação.
Entrou em uma espiral psicológica negativa que o levou a cometer o suicídio.
Tudo começou com um café meio morno.
A prova exigia uma dissertação complicadíssima e, de tão nervoso, acabou quebrando a ponta do grafite ao iniciar o texto.
Ao apertar o botão na parte de cima de sua lapiseira não foi mais grafite que surgiu do oríficio na outra extremidade, mas sim um texto completo, de 8 parágrafos, muito bem formulado, argumentado e concluído.
A pontuação impecável e a sintaxe irretocável davam estrutura digna a uma dissertação tão bem articulada.
Escondeu o sorriso, entregou a prova.
Tirou 0. A prova era à tinta.
Tinha tendência de se apaixonar pelas pessoas erradas. O truque então foi deixar que seu melhor amigo escolhesse as pessoas pelas quais deveria se apaixonar. Seu amigo tinha tendência de se divertir com a desgraça alheia. Seu amigo não poderia ter feito uma escolha pior, o que, sabemos, não poderia ter sido melhor. Foi miseravelmente feliz. Igual a todo mundo.
Estava inspirado, mas largou o papel e caneta. Precisava sair para comprar mais pó de qualquer jeito.
Tratou de eliminar o mal pela raiz. Guarda um pedaço da raiz na carteira como recordação. E para quando precisa praticar uma maldade, ter algum exemplo.
Hoje a legislação permite transplante de cérebros. Chega a ser triste ver a imensa fila de doadores esperando um recebedor.
Percebeu que estava triste. Tinha motivos. A questão era: E quando não tinha motivos? Foi ao médico que fez um exame de sangue e constatou um nível baixíssimo de auto-engano no sangue. Era grave, 10 vezes mais baixo que uma pessoa normal. Por lei, uma pessoa dessa não deveria poder circular na rua.
Duvidei dela. Ela disse eu que sentiria sua falta. Escrevo sobre ela porque esqueci, acredite.
Teve uma hora que senti tão mal, mas tão mal, por algo completamente insignificante: eu.